Capítulo 2 de SÁRDIRUS - A TERRA LENDÁRIA DO AGRESTE
2 –
UM
SONHO, UM PLANO
E
HISTÓRIAS FANTÁSTICAS
Na sala, Wellington, a esposa e a cunhada
conversavam em clima de festa sobre as últimas novidades da vida de cada um.
Rita havia sido aprovada num concurso público no estado do Maranhão, e a partir
desse ano teria dois empregos, dando aulas em Teresina e Timon. Wellington fora
promovido a chefe da seção de eletrodomésticos da loja em que trabalha como
vendedor há dez anos. E Sofia, depois dos trinta, comemorava a volta aos
estudos, no turno da noite, decidida a finalmente concluir seu Ensino Médio e
até ir além, arriscando uma faculdade e vindo a ser uma mulher formada, assim
como a irmã.
Enquanto
os três se congratulavam pelas boas notícias e diziam palavras de estímulo uns
aos outros, alternando-se na explanação dos seus planos para novas conquistas,
os dois primos se entretinham sossegados no pé de azeitona, lá no quintal.
Alberto
subiu para o galho mais alto da árvore e tentou encorajar Leônidas a segui-lo.
No entanto, Leozinho tinha os seus motivos para não topar o desfio. Lembrava-se
muito bem que uma vez tentara ultrapassar a metade da árvore e, por pouco, não
tinha se dado muito mal. Levou um escorregão, desequilibrou-se, e quando seu
corpo já ia se precipitar no vazio, Alberto o segurara pela gola da camisa,
evitando o que teria sido um encontro bem traumático com o chão.
Com a
força do susto ainda viva na memória, Leônidas pedia que Alberto descesse para
o galho onde ele estava. Alberto então desceu, mas do seu jeito. Em apenas dois
saltos, agarrando-se em outros galhos, estava no mesmo galho que o primo.
– Não sei
se você é corajoso ou maluco – comentou o primo da capital.
– Relaxa,
Leozinho. Nasci fazendo isso – replica o outro, com um sorriso matreiro no
rosto.
Leônidas
balança a cabeça, sorrindo também.
– Escuta,
queria te contar um sonho que tive na estrada, enquanto cochilava no ônibus –
começa Leônidas, conseguindo a atenção do primo aventureiro.
– Massa! O
sonho de um garoto inteligente é sempre uma coisa interessante. Do jeito que
você vive lendo aquelas histórias que me conta e tem a imaginação boa, seu
sonho só pode ter sido coisa bacana.
Leônidas
sorri mais uma vez.
– Quer
ouvir ou não, palhaço?
– Rasga.
Vou ficar bem caladinho.
– Beleza.
Foi o seguinte: sonhei que a gente estava na Serra de Santo Antonio, tomando
banho numa cachoeira; acho que era a cachoeira que sempre ouvi dizer que tem
lá. De repente, apareceu um pássaro enorme voando no céu; ele era lindo, de
penas brancas e malhadas de verde e roxo nas pontas das asas, no peito e na
cabeça; mas no tamanho ele era assustador. Aí ele veio vindo e passou sobre
nós, lentamente, e começou a subir de novo, mas agora ia levando você pelas
garras. Só que você não parecia nem um pouco assustado, muito pelo contrário,
você acenava pra mim alegremente, enquanto o pássaro subia cada vez mais alto. Você
abanava os braços no ar, como se estivesse muito feliz e tivesse intenção de
voar por conta própria; e realmente, depois de uma certa altura, o pássaro te
soltou. Mas nessa hora aconteceu uma coisa incrível – durante a queda você se
transformou também num pássaro branco, tão bonito quanto o outro, e saiu voando
suavemente pelo céu. Depois disso, o grande pássaro começou a vir na minha
direção; e quando já tinha chegado bem perto de mim, ele simplesmente falou. Isso
mesmo, falou numa voz incrivelmente agradável: “Agora é a sua vez”. Mas antes
que ele tocasse em mim, eu acordei.
– Caraca,
Leozinho! Pense num sonho massa!
E depois
da primeira reação, Alberto ficou absorto por um momento, ponderando alguma
coisa aparentemente de grande importância.
– Mas tem
uma coisa... – recomeçou Alberto.
– O que
é? – interessou-se Leônidas.
– Lembra
do plano que te falei? Pois é, tem a ver com a serra, que nem o seu sonho.
– Me
conta essa história direito.
E Alberto
se explicou:
– É
claro! Deve ser isso. O seu sonho significa que quando você chegasse aqui, eu
ia te falar do meu plano, você ia gostar da ideia e a gente iria voando pra serra.
Só que você ficaria menos à vontade do que eu, pelo fato de a gente ter que ir
escondido.
– Como é
que é? Virou intérprete de sonhos agora, Sapo-Pinga? E que conversa maluca é
essa de a gente sair escondido?
– Bom,
sobre o sonho eu não sei direito, posso estar enganado. Agora, quanto ao
resto... Você sabe, Leozinho, se a gente for passear na serra com nossos pais,
eles nunca vão deixar a gente fazer o que a gente sempre quis fazer lá:
escalar, explorar ao redor, entrar nas cavernas e nas grutas. Sei disso porque
já fui lá com meus pais, e o máximo que pude fazer foi dar uns pulinhos no
riacho. Mas sempre tive vontade de fazer muito mais. E como você também é
apaixonado pelo lugar, tive a ideia de irmos sozinhos, pra podermos realizar o
nosso sonho. Só que isso nossos velhos jamais iriam aceitar. Mas domingo vamos
ter uma oportunidade de ouro. E não enfeita, Leozinho, sei que você quer fazer
isso tanto quanto eu.
Leônidas
estava relutante, confuso. Do galho da árvore onde estavam conversando, a visão
da serra naquele horário, com o sol começando a se pôr, era magnífica. Ele
movia os olhos entre a longínqua imagem no horizonte e o rosto afogueado e
próximo do seu primo. Sabia que a proposta de Alberto era um disparate, mas
sentia-se tentado a aceitar. Por fim, resolveu dar uma chance ao primo de
mostrar o que a sua inteligência era capaz de articular.
–
Alberto, olha... Bom... Droga! Fala logo, qual é o plano?
– Besta!
Eu sabia que você não ia me decepcionar, garoto – comemora Alberto. – Presta
atenção, o plano é o seguinte...
Leônidas
ouviu com curiosidade. E também com espanto, pelo que provavelmente estava
prestes a fazer.
(Continua no próximo post. Não perca! Até amanhã!!!
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