Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2013

UMA NOITE, UMA GAROTA - post 4

Imagem
Capítilo 4 A pele cor de canela, cabelo negro com corte redondo feito cabelo de índia , baixinha, calça jeans e tênis de pano, toda cheiinha sem ser gorda (exceto na opinião dela), umas frescurites na maquiagem reproduzindo cílios de felino nos cantos dos olhos   – era assim a garota que acabava de me deixar com cara de buceta na parada de ônibus. Saí caminhando e no trajeto para a outra parada de ônibus, na praça Saraiva, repetia para mim mesmo que tinha valido a pena conhecê-la. “Talvez não tenha sido só uma aventura que não deu em nada” – pensava. Eu queria muito ter ficado com ela e não fiquei, mas foi muito bom ter passado o resto do dia com ela, foi ótimo. Foi sim. Só que meu orgulho tinha ficado meio ferido pela maneira como ela foi embora. Nem um beijo no rosto, nem um aperto de mãos, na verdade ela nem sequer olhou pra mim que fui tão atencioso com ela desde a hora em que nos encontramos, até mesmo quando ela veio com aquela baboseira psicológica de querer me

UMA NOITE, UMA GAROTA - post 3

Imagem
Capítulo3 Dina havia me dito que não comia há dois dias. Tinha entrado numa de fazer regime e coisa e tal, estava se achando gorda (uma delícia de corpinho; eu senti vontade de dizer isso bem baixinho pra ela, mas não disse). Então propus um lanche, ela topou. Fomos tomar suco com salgados numa lanchonete ao lado do 4 de Setembro. A lanchonete estava vazia e eu fiquei surpreso com o que ela me pediu.   –   Me conta a tua história. Ela havia me falado à tarde de uns “pacientes” seus -   pacientes de psicoterapia! Detalhe: Dina tinha dezesseis anos. De verdade, dezesseis aninhos. Fazia o segundo ano do ensino médio e queria ser juíza e pianista. Por enquanto ia praticando a psicanálise apenas com base na “lógica”. Era todo o seu método – a lógica. Pois bem, meio achando que ela estava querendo praticar comigo, meio achando que ela só queria me conhecer melhor, fui contando tudo enquanto comíamos. Quando acabei de falar foi a minha vez de ouvi-la, e pela primeira vez

UMA NOITE, UMA GAROTA - post 2

Imagem
Capítulo 2 Nos calamos e ficamos assim um tempão. Mas não incomunicáveis, havia uma espécie de onda de linguagem vibrando entre a gente até mesmo quando a gente se calava. Era estranho, porque embora eu mal conhecesse aquela garota eu sentia como se a gente estivesse enroscado um no outro o tempo todo, mesmo quando não havia contato sequer de olhar nós estávamos lá, completamente emaranhados um na alma do outro de um jeito que não dava mais pra desembaraçar. Tanto é que de dentro dessa forma de comunicação eu senti que ela queria sair, queria ou precisava sair dali, e bastou eu sentir isso pra que a gente se olhasse de novo, simultaneamente.  – E aí? – perguntei.  – Tá a fim de ir comigo até a Casa da Cultura? Tenho ensaio no coral às 7 – ela disse. Mas ainda iam dar seis horas, o sol estava começando a se pôr sem que a gente o visse dourando as águas do Parnaíba, por causa das lojas e prédios antigos reformados a nossa frente. Porém ela tinha me feito um convite sin

UMA NOITE, UMA GAROTA

Imagem
Aos fantasmas de Plínio Marcos, Jack Kerouac, Caio Fernando Abreu,  Allen Ginsberg e Torquato Neto – eternos assombradores do “bel-letrismo”. E para meu querido e imortal “vida louca” – Cazuza. PRÓLOGO          Há dias em que o tédio da vida não pode ser quebrado nem mesmo pela companhia dos melhores amigos, porque somos acometidos pela impressão de que até a força que vem disso se desgastou, e não traz emoção.            A cidade vira um mundo em ruínas pelo qual queremos apenas vagar sobre os escombros, sem nos importarmos com seus fantasmas sedentos de libertação e paz. Não queremos ser a esperança de ninguém porque nós mesmos já não temos esperança.             No entanto, se no meio dos escombros encontramos algo intacto, compreendemos imediatamente que somos parte disso que encontramos, porque apesar da dor estamos inteiros no meio dos cacos – e pertencemos a isso tanto quanto isso nos pertence.             A fronteira entre o que somos e