Nos livros e nos filmes - ele é cult, ele é pop, ele é A COISA!

 

            

Alguns artistas têm o dom de se projetar no imaginário popular de tal maneira que, mesmo aquelas pessoas que não acompanham seu trabalho, ao ouvirem seu nome numa situação qualquer, dizem automaticamente: “Ah, sei quem é”. Este é o caso do escritor norte-americano Stephen King (ou simplesmente Steve, como ele gosta de ser chamado). No caso particular de Steve, é incalculável o número de pessoas que conhecem o seu nome sem conhecer ou acompanhar de perto o seu trabalho.

            Eu me lembro do dia em que fui ao cinema para assistir a parte 2 do filme It, A Coisa, em 2019. Eu e Lya (minha esposa) assistíamos ao filme, quando, inesperadamente (na cena em que o Bill, já adulto e de volta à cidade de Derry, visita uma pequena loja de antiguidades e artigos usados), entra em cena ninguém menos que ele – Stephen King. Steve interpretou o dono da lojinha de antiguidades, numa cena curta, em que Bill compra de volta sua bicicleta dos tempos de adolescente. Ao lado de Lya, eu enlouqueci quando vi o mestre na telona, dentro da própria história. Senti aquilo como um momento mágico e espalmei as mãos, me preparando para aplaudir efusivamente.  

Por sorte – ou por azar – me dei conta a tempo de que ninguém, eu disse NINGUÉM!!!, naquela sala de cinema lotada, havia reconhecido o autor da história que estavam adorando assistir. Decepcionado e contrafeito, baixei as mãos e sussurrei para Lya, em tom de queixa: “É o Steve, caramba! Ninguém vai reagir?!” Isso mesmo. Ninguém reagiu. Confesso que tentei produzir um ataque de flatulência proposital, mas meu intestino foi mais educado e menos rancoroso que eu. Ainda bem.

 
(Stephen King, atuando no filme It: A Coisa 2)

Stephen King teve grande parte de sua produção literária adaptada para o cinema (para TV eu destacaria Castle Rock, da Amazon Prime Vídeo, apesar do cancelamento da série na segunda temporada). Como se não bastasse a popularidade do gênero terror e o imenso êxito alcançado pelos livros do autor nesse gênero, o gigantesco alcance próprio da linguagem audiovisual alavancou a obra e o nome de Steve aos maiores patamares do sucesso editorial e de bilheterias do mundo.

Seu nome, hoje, é inquestionavelmente o de um mito pop vivo. São poucos os astros do rock capazes de fazer um “ombro a ombro” com Steve em popularidade e influência mundial através de sua arte. E o mais impressionante é que a arte de Steve é a Literatura, uma arte com público consumidor bastante restrito, se comparada aos demais segmentos artísticos das outras mídias. Claro que as adaptações para o cinema ajudaram, mas o fato é que os livros de Steve, todos eles, se tornaram Best-sellers antes de irem para as telas.

Apesar de todo o sucesso de público do autor, os beletristas de plantão, repletos de preconceito (e de uma mal disfarçada despeita) com relação a toda arte dirigida ao grande público, costumam malhar a produção de Steve, depreciando seu talento narrativo e classificando seus livros como mera literatura de entretenimento – com toda a carga pejorativa que fabricaram para a palavra entretenimento. E isso, mesmo com o autor já tendo provado seu valor, obtendo reconhecimento em inúmeras premiações, como os prêmios Bram Stoker e British Fantasy. Ganhou também o Los Angeles Times Book Review e o Los Angeles Times Book Prize. Ganhou ainda o Best Hardcover Novel Award, da organização International Thriller Writers. Em 2003, Stephen King recebeu a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas, da National Book Foundation, e em 2007 foi nomeado Grão Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos.

No entanto, a verdade é que o grão-mestre das histórias de terror do século XX e desta primeira metade do século XXI não está restrito à condição de autor de histórias de terror. Livros e filmes de Stephen King, como À espera De Um Milagre, Conta Comigo, Um Sonho de Liberdade e Joyland, só para citar alguns, comprovam isso muito bem. São narrativas cheias de tanta humanidade que, apesar da linguagem simples e popular (um salve! salve! para Jorge Amado!), estão em plenas condições de serem inseridas no rol dos grandes romances.

Stephen King é um escritor popular por opção. Formado em Inglês (o equivalente ao curso de Letras, lá nos States), o autor poderia ter enveredado por qualquer estilo literário que desejasse, ele tinha fundamentação suficiente para isso. Todavia, seu imaginário já era irremediavelmente povoado pela atmosfera sombria das histórias de escritores como Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft. Steve conta que seu pai, ao abandonar sua mãe e ele, deixara para trás uma caixa com vários livros de Lovecraft, os quais fizeram as delícias (e os pesadelos) do pequeno leitor nos anos seguintes. Sua paixão pelo autor de Nas Montanhas da Loucura é tão grande que ele chega a afirmar: “Se não existisse H. P. Lovecraft, não existiria Stephen King”.

O garoto do Maine cresceu lendo e assistindo histórias que mostravam o lado oposto dos contos de fadas. De todas as suas leituras mais adoradas, talvez a que mais se aproximou disso foi O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien. Ainda assim, um conto de fadas bastante sombrio e assustador.

Com seu gosto natural por narrativas sobrenaturais, era de se esperar que Steve, ao se tornar escritor, seguisse o fluxo de suas leituras e começasse a produzir nesse gênero, espontaneamente. Com seu jeitão despojado e sem papas na língua, ao se referir a alguns escritores populares que lia na juventude, ele afirma: “Eu sabia que era aquele tipo de porcaria que eu queria escrever”. Claro que essa é a linguagem coloquial de Steve, seu jeito de dizer “tou nem aí pro que disserem de mim”, porque suas obras estão longe de serem porcaria.

A intuição e a espontaneidade são duas ferramentas marcantes no processo criativo de Steve. Depois de fazer uso de várias técnicas de escrita criativa, em alguns de seus livros, hoje ele é um improvisador convicto. Ao conceber a idéia de uma nova narrativa, ele faz algumas anotações básicas, senta na cadeira e manda brasa. Nada de planejar minuciosamente as histórias e os personagens. Ele costuma dizer que histórias são como artefatos, estão lá, você só precisa ir desenterrando, limpando, tirando a poeira, até que o artefato se mostre, completamente límpido. Em seu livro Sobre A Escrita ele expõe toda a sua técnica e seu processo criativo como escritor.

O livro do Steve que li mais recentemente foi JOYLAND. Uma das obras que o confirmam como muito mais que um escritor de histórias de terror. Ao embarcar na saga do universitário Devin Jones, de 21 anos, que se torna funcionário de um parque de diversões, onde uma garota foi assassinada em um dos brinquedos, e sabendo que se trata de um livro de Stephen King, logicamente somos arrebatados pela mais previsível das expectativas – mais uma história de terror! 

Bem, não posso nem quero nem vou dar spoilers. O sobrenatural está presente, sim – se não, não seria Stephen King! Mas, a meu ver, o que a obra tem de mais relevante é a jornada de crescimento e amadurecimento humano do personagem. E é maravilhoso ver isso dentro de uma obra do gênero. Porque isso vem justamente confrontar o “pré-conceito” que classifica a Literatura Fantástica como um gênero menor, sem profundidade ou grande valor estético (seja lá o que diabos isso queira dizer). É possível, sim, falar de coisas significativas com leveza e de forma lúdica. Ou simbólica. Coisa que os ditos intelectuais parecem ter dificuldade de entender e aceitar. Mas Steve, mestre Steve, o Grão Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos, entendeu isso melhor que ninguém. Ah, como ele entendeu! Graças a Deus, ele entendeu!

Atualmente, aos 74 anos, o jovem senhor escritor Stephen King continua uma máquina incansável de fabricar histórias, funcionando a pleno vapor (no caso dele, acho que a plena energia atômica!). Nos últimos anos, publicou livros novos ininterruptamente. Entre eles estão Revival, Mr. Mercedes, Escuridão Total sem Estrelas, Doutor Sono, Sob a Redoma, Novembro de 63, Depois, Billy Summers e Com Sangue.  

Stephen King é um artista tão fecundo que, até o ato de falar sobre ele se torna fecundo. Este artigo, por exemplo, foi planejado para 500 palavras. E aqui estamos nós, já com mais de 1.350 palavras!

Só posso finalizar dizendo: Gratidão a você, mestre STEPHEN KING!

Você é o cara...

Quer dizer – a coisa!

 

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Por: Eduardo Prazeres              

Comentários

Frank Sousa disse…
Gostei muito do artigo, Parabéns. Todo ano leio um ou dois livros dele, mas esse ano eu e uma amiga que também gosta do King vamos ler a saga A torre negra e todos os seus spin-off's começando pelo A Dança da morte com suas 1400 páginas. E quase na metade do livro lembrei que já vi a série The Stand. King não é meu escritor favorito, mas certamente está no meu top 10.
Eduardo Prazeres disse…
Frank, valeu! Comecei a assistir The Stand, achei o protagonista bem carismático, e a cara do King mais jovem, kkk. Mas acabei interrompendo, pq foi no auge da pandemia, e toda aquela história sobre um vírus somada à chegada do corona foi demais pra minha cabeça. Fui assistir e ler outras coisas, e ainda estou preparando o meu espírito pra ver a série em outro momento.

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