ARTISTA EMPREENDEDOR

O artista é o artesão do intangível.

Isso porque a matéria-prima de toda criação artística é intangível. Qualquer material, ferramenta ou equipamento utilizado nesse processo é mero instrumento funcional da verdadeira matéria-prima: a humanidade do artista.

Diante disso, o produto artístico (a obra) será sempre um reflexo direto daquilo que vai na alma do artista. No entanto, esse caráter subjetivo da obra nem sempre irá conter um potencial comercial necessário ao produto artístico que, como tal, tem um custo de produção.

Este aspecto, aliado a diversos outros de uma lógica de mercado da qual não podemos nos eximir, é determinante na decisão das empresas produtoras de cultura (editoras, emisoras de TV, gravadoras, canais de streaming, produtoras de cinema, etc.) sobre investir ou não nas obras artísticas que lhes são apresentadas, e transformá-las ou não em produto.

Assim, encontrando tanta resistência em conseguir se inserir no catálogo das empresas produtoras de cultura, o artista acaba por vislumbrar a carreira independente e o empreendedorismo cultural. Na falta de um empresário, que o possibilite se focar apenas na criação artística propriamente dita, o artista se torna o empresário de si mesmo.

Esse costuma ser um passo bastante desafiador. Principalmente porque, em raros casos, uma pessoa com aptidão natural para o estético e o poético consegue se adaptar bem aos aspectos empresariais da indústria cultural. Infelizmente – e realisticamente – essa é, cada vez mais, uma necessidade da carreira artística no Brasil. No século XXI, principalmente num país como o nosso, ser um gênio da arte já não é o fator decisivo para o sucesso como artista.  

A boa notícia é que, mesmo abrindo mão, em parte, de fazer apenas aquilo que gosta, o artista que se lança ao empreendedorismo cultural cria para si mesmo a oportunidade de não ter que deixar de fazer aquilo que gosta para ir viver de outra profissão. Isso sim, é garantia de frustrações futuras. Porque, mesmo obtendo êxito financeiro em outras profissões, uma genuína alma de artista nunca será plena, se for privada de experienciar e exercer a sua verdadeira natureza.

Outro aspecto bastante positivo de um artista se tornar empreendedor cultural é a ampliação das oportunidades de mercado geradas por esse ato. O artista empreendedor, além de abrir novos espaços para si mesmo, terá a chance de oportunizar janelas de trabalho para diversos outros profissionais da área. Um cineasta, por exemplo, que cria sua pequena produtora independente e consegue, de alguma maneira, levantar os recursos para produzir seu primeiro filme, estará oportunizando trabalho e alguma renda a um grupo de artistas e técnicos, que, sem essa iniciativa, nada teriam. E o melhor de tudo: ele(ela), o(a) cineasta, terá gerado trabalho e renda para si mesmo! Tendo que desempenhar funções empresariais, claro. Mas sem deixar de ser aquilo que mais ama: cineasta – artista!

A coisa mais honesta sobre tudo isso não é segredo para nenhum de nós – gostaríamos de fazer ARTE, ponto final! Apenas ARTE, todos os dias de nossas vidas!

Essa, talvez, seja a grande utopia com a qual nós, artistas brasileiros, ainda tenhamos que conviver por muito tempo na nossa ingrata realidade sociocultural e socioeconômica. Mas, sim, agradeçamos por essa alternativa que nos permite, mesmo por um caminho bastante espinhoso, avançar rumo ao nosso horizonte almejado. Um caminho que exige de nós desprendimento, abertura, coragem e atitude...

O caminho do artista empreendedor.

                                                                            

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Por: Eduardo Prazeres          

 

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