TODO ARTISTA PODE E DEVE SER UM MILIONÁRIO

 

 

     

Se você é artista, de qualquer área ou segmento, e, como milhares de profissionais dessa área, até hoje ainda não conseguiu obter uma remuneração digna por tudo que produz, já deve ter se perguntado coisas do tipo: “Como pode, num mundo onde produtores de armas (força destrutiva) são multimilionários, tantos produtores de arte (força criativa) viverem na pobreza?”. E não é culpa sua (nem paranóia sua) que especulações desse tipo passem pela sua cabeça.

No caso específico dessa pergunta exemplificada, alguém poderia responder, com uma sinceridade um tanto cruel, que as armas, mesmo representando uma força destrutiva, acabam tendo também uma utilidade mais prática e, por isso, sendo mais rentável produzi-las do que produzir arte.  

Bem, o propósito aqui não é discutir a utilidade nem as questões éticas em torno da produção de armas. Confesso que queria apenas uma comparação impactante, de algo completamente diferente do fazer artístico, para chamar a atenção para essa enorme discrepância quanto à remuneração de uma das categorias profissionais mais importantes do mundo.  

Não, não é exagero nenhum falar isso. O artista é sim um dos profissionais mais importantes e mais “necessários” para a sociedade. Sim, o artista é e sempre será NECESSÁRIO. Necessário porque é ele/ela, o/a artista, quem incorpora em si aquela parte da essência humana que a maioria das pessoas deixou para trás (ou tentou, ou está tentando deixar) – seus sonhos mais elevados, compatíveis apenas com a grandeza singela da alma das crianças.

A verdade é que sonhos nunca morrem, eles apenas vão sendo guardados em gavetas cada vez mais escondidas do gigantesco arquivo da consciência humana. As pessoas vão adicionando camadas cada vez mais pesadas de “vida prática” sobre seus sonhos, sepultando-os dentro de si mesmas. E assim, os sonhos vão se tornando uma poderosa lanterna acesa, que, no entanto, foi trancafiada numa gaveta fechada, sobre a qual depositaram muitas outras, deixando a luz da lanterna cada vez mais oculta e ineficiente.

E é aí que o artista surge como a mão salvadora, que mergulha nas camadas mais profundas da consciência para abrir a gaveta e resgatar aquela poderosa fonte de luz, ocultada pela escuridão dos afazeres obrigatórios, da rotina diária meramente voltada para a sobrevivência e desprovida de uma satisfação íntima. Este não é um ofício fácil nem banal. A tarefa do artista é árdua e exigente. E, acima de tudo, é uma missão de vida. Exige dedicação, competência e aprimoramento constante. Por estes, e por tantos outros motivos, cuja lista ocuparia este artigo inteiro, o ofício do artista é NOBRE.

Tudo aquilo que contribui para o crescimento interior (razão e emoção) das pessoas, contribui para um mundo melhor. Isso porque, tudo que existe no mundo externo coletivo (a sociedade) é fruto direto do que se passa no mundo interior individual. Tanto as invenções tecnológicas, como a organização social e os padrões comportamentais, nascem de idéias, crenças, conhecimento e visão de mundo das pessoas. A realidade objetiva é um mero holograma das realidades subjetivas. E poucas atividades humanas trabalham tão profundamente a subjetividade dos indivíduos quanto a arte, em todas as suas manifestações. Por este motivo, o/a artista é, inquestionavelmente, um poderoso agente de melhorias do mundo em que vive.

Sendo assim, por que não receber os melhores salários do mundo quando se exerce uma das profissões mais importantes do mundo?

Mesmo dentro do sistema capitalista e tendo que se adaptar a muitos ditames do mercado, a produção artística (ou economia criativa, como se diz atualmente) oferece inúmeras possibilidades de monetização aos profissionais dessa área. Tanto produzindo de modo corporativo (dentro de estúdios, editoras, emissoras de rádio e Tv, canais de streamings, produtoras de audiovisual, gravadoras, etc.) como de modo independente (inclusive através de editais públicos de incentivo à cultura), o/a artista dispõe de muitas alternativas de ganhar dinheiro com seu ofício e viver dele.

É verdade que essa é a parte boa da história, e existe o outro lado da moeda. As oportunidades, tanto na produção corporativa como na produção independente, acabam não sendo tão democráticas o quanto parecem. Por inúmeros motivos. Entramos no universo da “política cultural”, e, como tudo no campo da política, há sempre “interesses” (de pessoas, grupos e corporações) em jogo. Isso acaba direcionando demais as oportunidades e, trazendo como conseqüência fatal, a limitação das mesmas.

É comum vermos artistas de grande esplendor amargando uma vida de dificuldades financeiras. Pessoas de um talento luminoso, que dedicam suas vidas a canalizar em si mesmas as dores, as alegrias, os medos, os sonhos, as frustrações, as esperanças e todos os tipos de emoções antagônicas e passíveis de serem experienciadas por um ser humano, e transmutar tudo isso em conteúdo estético, em linguagem poética, transcendendo a condição de criatura e se fazendo criadores e criadoras, propondo mundos alternativos possíveis.    

O/a artista precisa ter consciência de sua grandeza. Temos a honra – e o mérito – de exercermos uma das profissões mais relevantes já concebidas pela inteligência humana! Somos capazes de viver “por” e “para” o outro, no sentido de dedicarmos nossas vidas a jamais deixá-lo se esquecer da beleza singela, misteriosa, grandiosa e transcendental da existência. Isso é fazer o melhor pela humanidade.

Quem faz os melhores trabalhos merece as melhores recompensas!

Há obstáculos, eu sei. E sei porque sou artista, e vivo na pele esses obstáculos. Mas estou fazendo a minha parte, a cada dia, para que meu ofício seja amplamente reconhecido como ofício de Mente Criativa e Agente de Melhorias no mundo. É o que podemos e devemos fazer, juntos, firmes num propósito comum – o de que todos e todas as artistas possam desfrutar de uma vida socioeconômica digna, que esteja à altura do valor imaterial (e incalculável) daquilo que nós oferecemos ao mundo, em forma de nutrientes para uma mente e um coração mais capazes de gerar um glorioso amanhã!

E, por que não?, um belo e glorioso HOJE!

 

 

Por:  

Eduardo Prazeres  

      

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