É ARTISTA E NÃO É CELEBRIDADE? VAI TER QUE SE GARANTIR NA PRODUÇÃO!



A natureza do fazer artístico é algo que está muito mais próximo do sonho e do encantamento poético do que de coisas pragmáticas, como o gerenciamento de questões financeiras, por exemplo. Mesmo desejando alcançar a prosperidade com seu ofício, o artista quase nunca está interessado nos trâmites burocráticos responsáveis pela geração do dinheiro com sua arte. Ele/ela deseja simplesmente executar sua função criativa, receber aquela bolada e viver o vidão que todo mundo pediu a Deus.

     É verdade que isso vem mudando, nos últimos tempos. Mas a priori, de um modo geral, ainda é assim que se comporta a mente da maioria das pessoas dessa área. Principalmente os iniciantes.

     Até porque a mídia está aí, para não desmentir o sonho de ninguém. Artistas de todos os segmentos e de todas as idades estão vivendo hoje, bem diante dos nossos olhos, exclusivamente daquilo que amam fazer. São famosos e ricos, e não estão preocupados com outra coisa que não seja o aspecto criativo, o lado lúdico do seu trabalho. São as chamadas celebridades do mundo artístico. Estão em todas as áreas – música, cinema, televisão, literatura, artes plásticas, etc.

     O patamar de sucesso a que essas pessoas chegaram acaba se convertendo num modelo, nos dando um parâmetro sobre até onde nós também podemos chegar. Afinal, temos a mesma profissão que elas. Somos todos artistas.

     O que nós não somos todos é celebridades.

     Pelo menos, por enquanto. Podemos vir a ser, é claro. Mas, por hora, não somos todos celebridades. Embora sejamos todos artistas.

     Com certeza estou usando o termo celebridade aqui de modo genérico. Muito mais para me referir àquela classe de artistas que já conseguem viver do seu ofício, geralmente com algum tipo de apoio institucional de uma empresa da sua área de atuação. Isso sempre resulta numa boa projeção midiática do artista. Por isso a referência a essa classe como a das celebridades.

     Para esses artistas, até certo ponto, a vida está resolvida. Os que agem com sabedoria, mesmo que a fama passe e as oportunidades no mercado, com o tempo, diminuam, irão sempre ter um bom padrão de vida através do que conquistaram nessa fase.

     Mas, como fica a situação do artista que ainda não chegou ao patamar de celebridade? É possível ter uma vida financeira digna, nesta profissão, sem atingir esse patamar?

     A resposta mais honesta é: Sim e Não!

     Sim, porque o artista dispõe de alternativas e ferramentas para viver de sua arte, mesmo não sendo uma celebridade. E Não, porque esse é o caminho das pedras, e nem todos estão dispostos a percorrê-lo. Então, é Sim para uns e Não para outros.

     Lembrando que, neste caso, o Sim e o Não irão depender basicamente de Você. E, particularmente, de o quanto você está convicto de que a arte é o seu caminho e decidido a trilhar este caminho, que quase sempre se apresentará como o caminho das pedras.

     É preciso dizer, porém, que se faz um certo “drama” em torno do assunto. A carreira artística não é a única do mundo que oferece dificuldades. Ou você realmente acredita que alguém se torna um neurocirurgião de sucesso da noite para o dia, sem enfrentar nenhum tipo de perrengue? Quantos arquitetos do nível de Oscar Niemeyer você é capaz de listar? Você conhece a história do político norte-americano Abrahan Lincoln? Sabe quantas vezes ele foi derrotado em campanhas eleitorais antes de se tornar presidente dos Estados Unidos? Acredite, Lula se elegeu de primeira, se comparado a Lincoln. 

O problema é que costumamos olhar para as pessoas bem sucedidas de outras profissões e acreditarmos que elas são bem sucedidas justamente pelo fato de estarem em outras profissões. E, pior ainda, acreditarmos que tais pessoas só são bem sucedidas “porque não são artistas!”

Apesar dos (muitos!, enormes!) pesares, a realidade do artista, em termos de possibilidades de decolagem na profissão, não é a mais desvanecedora do mundo. Quando se tem coragem de arregaçar as mangas e encarar as adversidades dessa profissão, como fazem os que buscam sucesso em outras profissões, pode-se chegar a resultados bastante satisfatórios.

E o grande mecanismo, ou caminho alternativo, para se chegar ao êxito na carreira artística, mesmo sem ser uma celebridade, é a PRODUÇÃO CULTURAL. Aquela parte da realização artística que está desvinculada da criação poética, propriamente dita. Aquela parte que a maioria de nós, talvez, gostaria de nunca ter de fazer. Aquela parte que inclui aprender a fazer planilhas orçamentárias (só o nome já dói em alguns), cronogramas, redigir estratégias de ação, objetivos, justificativas, realizar captação de recursos (Aaahhh! Isso não!!!). Aquela parte que exige de nós, para que possamos ser artistas, que nos tornemos, até certo ponto – pessoas de negócios.

Parafraseando o poeta Mário Faustino, quando ele diz “vida, toda linguagem”, eu costumo dizer, quando penso no fazer artístico: “vida, toda mercado”! Conheço bem o risco de ser mal interpretado ao afirmar isso. Mas ser realista e sincero é sempre arriscado. Geralmente é assim que se vira um alvo de críticas (e de coisas mais fisicamente perfurantes). O fato é que toda profissão é um negócio. Como trabalhador, você não pode fazer mais nada, além de oferecer produtos e/ou serviços. Não importa o que você faça. É e sempre foi assim.   

O artista é um canal metafísico, um expoente de coisas imateriais que, no entanto, para alcançar o mundo, precisam se converter em produtos materiais – os quais possuem um custo de produção. Este é um remédio muito eficiente contra os nossos melindres na hora de entender arte como negócio: pensar nos custos de produção da nossa arte. Quanto custa realizar sua nova idéia, transformá-la em coisa palpável? Esse pode não ser o valor da sua arte, mas é o preço do seu produto artístico!

Para que o mundo veja o valor da nossa arte ela precisa aparecer como produto artístico. E este tem um custo de produção.

O artista-celebridade tem quem banque esse custo. O artista-não-celebridade não tem. Para este, resta a PRODUÇÃO CULTURAL.

É mediante sua ação, como Produtor Cultural, que o chamado artista independente irá romper as amarras que o impedem de produzir e veicular sua arte. Isso exigirá do artista um nível desafiador de desapego. O desapego de sua condição de “ser de pura sensibilidade poética”. Esse exercício de desapego não significa diminuição da sensibilidade criadora em prol do avanço como pessoa de negócios. Pelo contrário, é para ser um esforço conjunto de habilidades, ou, quando menos, de ações direcionadas a um mesmo propósito.

Quanto às ações possíveis, no campo da Produção Cultural, elas vão desde a busca de patrocínio direto, junto a pessoas ou empresas, até a participação em editais de incentivo à cultura, públicos e privados. Ignorar quais são esses mecanismos e seus parâmetros de realização é uma falha gravíssima e o caminho mais curto para o fracasso do artista que não é celebridade (nem rico de nascença).

Dificilmente isso terá acontecido, mas, se você chegou ao final deste artigo se perguntando o que são e como funcionam editais de incentivo à cultura, públicos e privados (e não é uma celebridade) – cuidado! Há uma lacuna muito grande a preencher no seu entendimento do que é ser um artista profissional. Mas calma, essa é uma lacuna que pode ser preenchida. Com um pouquinho de esforço, é claro. Afinal, estamos em plena era da informação, não é mesmo? Qualquer busca rápida na web por termos como Economia Criativa, Editais de Incentivo à Cultura, Leis de Isenção Fiscal e Produção Cultural Independente, irão te render uma carga de informação inicial bem interessante sobre o assunto. Depois, é só ir aprofundando. E praticando, claro.

Lembrando que, o mais importante a dizer aqui... Tá no título do artigo.

 

Por:    

Eduardo Prazeres

  

 

      

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