DIÁRIO DE UM ESCRITOR ERRANTE- post 3

Continuação de Caxias

NOTA: Depois de Caxias, já visitei várias outras cidades ( José de Freitas, União, Altos, Monsenhor Gil, Demerval Lobão, Piripiri, Água Branca, Campo Maior ), só que ainda não tive tempo de escrever e postar tudo aqui. Mas isso vai acontecer. Será que vai virar livro? rsrssrrs. Quem sabe...



(Tarde do dia 15/09/11 – quinta-feira)

Chegando na pousada depois daquela manhã exaustiva senti que estava realmente desanimado. Poucas vendas para muita expectativa. Pus-me a pensar no que poderia ter me atrapalhado naquele primeiro dia. Eu havia trabalhado com afinco e durante tempo suficiente para obter uma boa produção. A explicação mais aceitável que eu encontrava era o fato de ter trabalhado diretamente no centro, por não conhecer bem a cidade. Nos arredores do centro eu sempre consigo vender melhor o meu livro.

Tomei um banho e me atirei na cama, sem muito ânimo pra ler ou fazer qualquer outra coisa pra matar o tempo enquanto chegava a hora de sair de novo, à tarde. Devo ter dormido por uns vinte minutos, e passei o resto do tempo decidindo se sairia mesmo à tarde ou se arriscava tentar vender nas escolas e bares à noite. Acabei optando por não sair mais a tarde e tentar a noite, nas escolas.

Perguntei à garçonete da lanchonete do posto se ela conhecia alguma escola pública de ensino médio com aula à noite e muitos alunos. Ela me indicou o colégio Alexandre Costa, no bairro Campo de Belém. Já o vigia do posto, quando lhe fiz a mesma pergunta, me indicou a escola César Marques, no mesmo bairro. Resolvi então que, se desse tempo, eu visitaria as duas escolas.

Por volta das 4 horas acabei me animando a ler um pouco. Peguei o volume de Orgulho e Preconceito e bastou que eu começasse a ler para me censurar por ter evitado uma leitura tão deliciosa. Por mais que isso seja lugar comum, não dá pra deixar de dizer que Jane Austen é maravilhosa. Li por cerca de meia hora, depois fui até a lanchonete do posto, tomar um caldo de cana (agora sim, isso cairia bem). Quando estava voltando para o quarto, uma Hilux pequena que estava abastecendo no posto me chamou a atenção. Tinha uma pintura personalizada, com a foto de uma mulher loiro e bonita, e os dizeres “Rayla, a rainha da seresta e do arrocha”. Ao passar perto do carro notei que a mulher da foto era a motorista; ela me fez um aceno de cabeça, discreto mas simpático.

Entrando no quarto, senti que devia ter me aproximado de Rayla, uma daquelas impressões puramente intuitivas. Vim para a porta do quarto e, vendo que o carro ainda estava lá, me aproximei. (Esse sou eu mesmo?) Cumprimentei Rayla e devo ter perguntado alguma coisa bem idiota, do tipo: “É você na foto?” Bem, seja como for, tivemos uma conversa rápida mas bem agradável. Ela me disse que havia cantado recentemente em Teresina e me pediu desculpas por não ter em mãos nem uma cópia do seu CD, com que gostaria de me presentear. Eu lhe falei do meu trabalho, voltei correndo no quarto para pegar um exemplar de Balada Suburbana e a presenteei. Ela pediu os meus contatos; e quando eu lhe perguntei se ela tinha facebook, twitter, blog, ela me respondeu: “Sou atrasada com essas coisas de internet”. Falei-lhe da importância das redes sociais na divulgação de um trabalho artístico, mas resumidamente, sem fazer discurso.

Rayla partiu e eu voltei pro meu quarto. Dali a pouco seria noite, e eu queria fazer bonito nos colégios.

Umas seis horas tomei banho e me arrumei. Pouco antes das sete peguei um moto-táxi e tomei o rumo do colégio César Marques. Lá, o único acontecimento lúdico foi quando uma professora se negou a me deixar entrar na sala, a não ser que a diretora viesse autorizar pessoalmente. Fui até a diretoria; a diretora, meio chateada, veio comigo até a porta da sala e disse à professora que se eu estava ali era porque ela havia prometido. Tive medo de rolar uma tensão maior entre as duas, mas não rolou. No fim, quando me apresentei para os alunos e disse que era um escritor, a professora me acolheu super bem e me deixou falar com a turma à vontade.

Vendi alguns exemplares na hora (pela metade do preço, como sempre faço nas escolas( e tirei alguns pedidos para o dia seguinte (até ali, eu ainda pretendia dormir em Caxias no dia seguinte).

Saindo do César Marques, como ainda era cedo, me dirigi ao colégio Alexandre Costa. Fui mesmo a pés, pois tinha passado em frente ao colégio na vinda, e calculado a distancia de um ao outro; não era tão longe. O Alexandre Costa tinha bem menos turmas funcionando; consequentemente, bem menos alunos e chances de vendas. Pra completar, os professores me falaram de uma paralisação geral marcada para o dia seguinte, da qual nada me disseram no César Marques. Ou seja, os pedidos do livro para o dia seguinte já eram. Portanto, não fazia sentido dormir em Caxias mais um dia, e a única opção era vender tudo que tinha pra vender no outro dia até o final da tarde.

O meu entusiasmo para vender nos bares estava definitivamente refutado. Eu achava que só não conseguia fazer isso em Teresina por um certo constrangimento de chegar num bar onde houvesse algum amigo bebendo. Bobagem minha, mas agora eu via que essa bobagem me acompanharia para além das fronteiras da cidade natal.

Voltei para a pousada me sentindo meio vencido. Tinha feito algumas vendas, mas por causa das despesas da viagem, aquilo não representava lucro algum para aquele dia. A coisa não estava indo bem. No dia seguinte eu teria que me sair muito melhor, mas isso representava um nível de cobrança que em si mesmo já era bem desagradável. Eu teria que ter determinação pra superar isso também.

Quando me deitei para dormir, ouvi um barulho muito estranho no quarto ao lado. Parecia o som de um rádio procurando sintonia, mas não era.  Desliguei o meu ventilador para ouvir melhor. Achei que parecia também com o som de algum tipo de engrenagem metálica em movimento. Depois parecia que era uma mistura das duas coisas, o ruído de um rádio fora de sintonia com o som de uma engrenagem rodando. Talvez pelo meu estado de espírito, comecei a pirar em possibilidades totalmente surreais, tipo: “o cara do quarto ao lado estava sendo abduzido por um grupo de alienígenas, que, naquele momento, realizavam uma cirurgia para implantar algum tipo de chip na sua coluna”. Que coisa, hem? Rsrsrsrsrsrsrsrs. Acho que foi o jeitão esquisito do hóspede do quarto ao lado, que eu tinha visto durante o dia, que me inspirou esse delírio.

Procurei ignorar aquilo e fui dormir.

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